quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Dra, minha boca está seca!

Xerostomia é o nome dado à secura bucal que atinge um terço da população mundial. A ocorrência frequente de casos de pacientes com xerostomia em meu consultório foi um dos principais motivos para que realizasse esta postagem.
Várias são as causas que interferem para que haja a secura bucal, dentre elas o uso de medicamentos,  respiração bucal, estresse, obstrução nasal, diabetes, doenças autoimunes, senilidade, distúrbios neurológicos, fumo, menopausa e alterações hormonais, efeito colateral de radioterapia, entre outros.
A incorreta ingestão de líquidos já é um grande fator para diminuição da formação salivar, visto que a maioria das pessoas não se hidratam adequadamente e os líquidos ingeridos não são suficientes e nem possuem qualidade satisfatória para a produção da saliva. O abuso de bebidas gaseificadas,  refrigerantes (principalmente os Zero açúcar que contém sódio em maior quantidade), bebidas alcoólicas e o danado do cafezinho em excesso que o brasileiro tanto ama, o  são aliados da xerostomia. E a água que é fundamental, o líquido divino que hidrata, limpa e é essencial para a liberação de nossas toxinas fica em último plano. Por tanto, nada substitui a água.



Com a correria da vida moderna, além da incorreta alimentação e hidratação,  o estresse é grande influente na redução da saliva. Há um aumento da adrenalina na corrente sanguínea e consequentemente uma diminuição da função das glândulas salivares.



A redução da quantidade e da qualidade de saliva interfere na piora do processo digestivo, já que a enzima ptialina (ou amilase salivar) é que digere parcialmente o amido. Além da digestão começar pela boca, a saliva tem a função de lubrificar e umidecer o alimento que está sendo triturado e reduz também o atrito entre os dentes devido à película que se forma. Isso significa que a redução do fluxo salivar está intimamente ligada ao aumento de escamação bucal, aumentando a formação de cáseos amigdalianos!
Com as inúmeras funções da saliva, torna-se desnecessária a ingestão de líquidos durante a refeição. Acontece que com o corre corre diário, as pessoas infelizmente deixaram de mastigar adequadamente os alimentos e os "empurram guela a dentro" com meio litro de líquido (geralmente o venenoso refrigerante). Antes de engolir, deve-se mastigar umas 33 vezes, comer é prazer, sentir sabor, deixar o cérebro receber as informações e gerar saciedade. Portanto reduza os bocadões dos lanches, as montanhas das garfadas e mastigue, mastigue, mastigue, transformando o alimento em partículas menores, umidecendo e deixando as enzimas exercerem o seu papel. Mesmo porque, como minha mãe sabiamente sempre disse à mim e minha irmã quando éramos crianças, " o estômago não tem dentes"!



Na verdade, a saliva é o nosso detergente natural! Lava constantemente nossa boca, e em sua ausência, as bactérias fazem verdadeiras festas. Com a xerostomia, dentes, gengiva e bochechas são prejudicados, intensificando problemas periodontais e aumentando o índice de cáries. Como é rica em minerais que são fundamentais na remineralização dos dentes, a saliva mais espessa quando ingerimos pouca água, acaba endurecendo a placa bacteriana e formando o tártaro. As queixas principais dos pacientes é a alteração no paladar, dificuldade de mastigação e deglutição, mau hálito e dores de gartanta.
Bem, eu sei que me empolgo, meus pacientes dizem que não explico, dou aulas!  Eu poderia escrever folhas e mais folhas sobre este tema, mas o objetivo não é este.
E aí, Dra, tem solução?
São inúmeros os recursos, até mesmo o emprego de salivas artificiais.
Um exame no cirurgião dentista, uma boa anamnese são fundamentais para a eleição do tratamento. O correto diagnóstico e a descoberta da causa é que vão dar tais diretrizes. 
Obrigada pelo tempo dispendido a esta leitura e até a próxima postagem!

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Bruxismo

O ato de ranger ou apertar os dentes durante a noite é chamado de bruxismo. Esse hábito parafuncional ocorre durante o sono e desencadeia uma série de problemas que serão descritos de maneira fácil, clara e objetiva para que você possa compreender melhor as causas e consequências decorrentes do bruxismo.
Muitos pais relatam que estão observando que seus filho estão rangendo os dentes, porém em determinadas fases de crescimento ósseo, a criança pode apresentar um bruxismo (afinal de contas, os ossos da face precisam se desenvolver para a chegada dos dentes permanentes que são maiores e em maior número do que os decíduos). Essa causa não é patológica, porém o quadro deve ser acompanhado por um profissional. Além disso, um exame de fezes é bem vindo, pois algumas verminoses podem provocar o bruxismo infantil.
Na fase adulta porém, a história é outra. Fatores emocionais estão interligados, sendo o estresse um grande contribuinte para o bruxismo, que acomete homens e mulheres, sendo elas as que mais sofrem com dores decorrentes do problema. Mas porque as mulheres sentem mais dores do que os homens? Bem, estudos relatam que além da questão muscular e óssea do crânio masculino ter diferenças do feminino, a posição da mulher na sociedade, com suas multi tarefas (mães, trabalham fora, cuidam da casa, administram horários e a rotina de filhos, marido etc e tal) acabam sofrendo mais as consequências.

                                                                     Bruxismo
Nesta imagem, observa-se presença de desgaste dos dentes e restaurações acometendo não somente os dentes anteriores como os posteriores, havendo também fratura de restaurações.
Infelizmente, o bruxismo também está acometendo os jovens, que cada vez mais são "espremidos" pelo excesso de responsabilidades impostas nos dias de hoje. É frequente em meu consultório a procura da moçada que vai prestar o vestibular, que está cursando a faculdade ou se inserindo no mercado de trabalho.
A ansiedade, as preocupações, o estresse são uns dos vilões que potencializam o bruxismo.
Além de desgastar os dentes, quebrar restaurações ou até mesmo os dentes, o apertamento ou o ranger dos dentes afeta a parte periodontal que recebe grande impacto, acarretando em perda óssea, retrações gengivais, sensibilidade dentária, problemas de canal (pelo desgaste ou pelo trauma), dores de cabeça, dor de ouvido, inflamação da articulação, mudança na oclusão (mordida), mudança na posição dos dentes e na postura da língua, entre tantas.
Como o visto, a causa é multifatorial e o tratamento é multidisciplinar.
Como cada indivíduo é único e possui necessidades distintas, portanto requer tratamentos distintos.



O tratamento pode incluir a utilização de placa miorrelaxante para o paciente usar enquanto dorme (demonstrada pela imagem acima), que é confeccionada após moldagem para adaptação da mesma aos dentes. Orientações quanto à mudança de  hábitos nocivos inerentes do dia a dia que interferem na arquitetura do sono, indicação de fisioterapia, cuidados com a saúde emocional e medicamentos,  também podem ser aplicados de acordo com a necessidade.
De nada adianta restaurar o dente que foi quebrado, ou fazer qualquer reabilitação oral se o bruxismo não for cuidado, pois o problema permanecerá e outros dentes ou restaurações se desgastarão ou quebrarão novamente, por exemplo.
É fato que existem períodos de melhora ou piora de tal hábito, que geralmente é agravado em decorrência de maior estresse. E vários paceintes relatam, "mas eu não ranjo a noite toda"! Temos fases do sono em que  o bruxismo se torna mais propenso, além disso, raramente o próprio paciente tem noção do seu próprio hábito, que torna-se inconsciente enquanto dorme. Oras! Ninguém range ou perta os dentes porque quer! Muitos nem sabem que têm e descobrem com uma visita ao dentista por outro motivo! Um parâmetro é conseguido com a pessoa que dorme junto com o paciente e escuta o "rec rec" durante a noite.
Como o assunto é extenso e complexo, espero ter abordado o conteúdo de maneira a esclarecer as principais dúvidas que chegam até mim, e orientar quanto à necessidade do tratamento e acompanhamento com um especialista.
Abaixo segue a imagem de uma placa miorrelaxante:







sábado, 5 de maio de 2012

A boca faz parte do corpo! Odontologia holística

Mudando pensamentos retrógrados e quebrando a visão restrita de que dentista é o profissional que cuida dos dentes, proponho aqui a reflexão sobre o exercício da atividade do cirurgião dentista.


 A anamnese é de suma importância e as informações recolhidas no que diz respeito ao quadro de saúde geral (física e psíquica) do paciente está intimamente ligada ao sucesso do tratamento. A mentalidade do dentista que "cuida da boca" cai por terra quando observamos que inúmeras patologias bucais surgem do desequilíbrio de outras áreas do organismo ou do estado emocional do paciente.
Essa visão abrangente, que observa muito mais do que uma cárie em um dente é um avanço tão grande quanto os recursos tecnológicos que temos em mãos. À medida que a ciência estuda a melhoria de técnicas, no que diz respeito à aparelhagem, informatização, análise de novas drogas e em busca de cura às enfermidades, cabe a nós profissionais termos em nosso arsenal a eterna busca de conhecimento ao lidar com cada pessoa como um ser único, com suas particularidades, suas necessidades, suas respostas frente aos diferentes tipos de tratamento.
Em uma sincronia e harmonia na relação paciente-profissional, está o caminho para o diagnóstico e a melhor resposta ao tratamento.
Está aí a importância do paciente dar o máximo de informações ao profissional, seja no quadro de saúde geral, se está tomando algum remédia, se está no meio de algum tratamento médico, fisioterápico, psiquiátrico ou qualquer processo terapêutico. 
Da mesma forma que muitos problemas refletem na boca, um foco de infecção que esteja na boca (que não está separada do corpo!) pode desencadear inúmeros problemas em outras partes do organismo. Por exemplo: um paciente foi encaminhado ao meu consultório por um urologista para uma avaliação bucal, uma vez que o mesmo apresentava uma infecção urinária persistente. Tal infecção foi sanada após a realização de um tratamento endodôntico (tratamento de canal). 
Mas há muitos e muitos riscos em deixar de cuidar da saúde bucal, mesmo porque estará deixando de cuidar da saúde geral! A endocardite é muito temida, onde bactérias caem na corrente sanguínea e se alojam em válvulas do coração.
Há hoje uma grande preocupação com a higienização  e saúde bucal de pacientes intubados e em Centros de Terapia Intensiva, pelo risco da aspiração de bactérias aos pulmões e a relação com as pneumonias nesses pacientes que já encontram-se debilitados.
Além dos exemplos acima citados, poderia ficar horas e horas descrevendo a íntima relação entre a boca com o restante do corpo. O intúito é despertar a responsabilidade em cuidar da saúde bucal tendo em vista a amplitude e correlação de todos os sistemas em nosso organismo.


sexta-feira, 20 de abril de 2012

Hipersensibilidade dentinária

Uma das maiores queixas dos meus pacientes é a hipersensibilidade dos dentes. Para que você possa entender melhor, o nosso dente é composto por:
-  Esmalte (que é a camada superficial, extremamente mineralizada que proteje os dentes, porém na porção cervical entre a raíz e a coroa a camada de esmalte é mais fina)
-  Dentina (que está abaixo do esmalte e possui um sistema de canalículos que levam as informações à polpa do dente) 
- Polpa (é o famoso "nervinho" do dente, muito vascularizada e inervada, é ela que responde com dor frente a uma agressão aos dentes).
Veja uma explicação mais detalhada no post anterior, Anatomia dos dentes.
Quando ocorre uma retração da gengiva ( a gengiva afasta do dente por várias causas como técnica de escovação inadequada ou agressiva, perda óssea, trauma oclusal...), ou quando ocorre um desgaste do esmalte (pelo ato de ranger os dentes chamado bruxismo, escovação agressiva, com cerdas rígidas ou com abrasivos, ingestão excessiva de bebidas ou alimentos ácidos...), os túbulos dentinários ficam expostos e mandam a informação à polpa dental que responde com a famosa sensibilidade.

                                                                  Retração Gengival

 Os pacientes que possuem essa sensibilidade sofrem mais com a ingestão de alimentos ou bebidas geladas como sorvetes, sucos, água gelada e com alimentos ácidos como vinagre ou limão usados na salada, ou frutas cítricas como abacaxi e laranja, chegando à sofrer até mesmo ao enxaguar a boca durante a escovação princpalmente no período do inverno, quando a água à temperatura ambiente está mais fria.
Para isso exitem cremes dentais específicos no mercado, que ajudam na obstrução, a vedar esses túbulos dentinários que estão expostos, reduzindo a sensibilidade. Além disso, o flúor também colabora nesse papel. Uma visita ao dentista é necessária para o correto diagnóstico, uma vez que a sensibilidade exacerbada pode ser também devido à uma restauração inadequada, pela presença de cárie, por um problema de canal, por exemplo. Há também tratamentos com produtos específicos aplicados pelo dentista que vedam os túbulos expostos.
Na verdade, para que haja resultado satisfatório, é necessária uma mudança de hábito para reduzir a acidez bucal, caso contrário, o ácido vai "dissolver" o que o flúor e o creme dental vedaram, voltando a provocar a hipersensibilidade nos dentes.
A ingestão de água também é muito importante para que a saliva esteja com boa qualidade e boa quantidade, ajudando na limpeza natural e colaborando no controle da acidez.
Segue abaixo, uma imagem cedida pela Colgate, que ilustra bem as camadas que compõem os dentes e os túbulos dentinários.